A paz da fronteira e o recado docente

A última vez que viajei à fronteira foi num distante 2014, ainda como professor do Colégio Santa Teresa de Jesus. Na época, a associação de professores promovia saídas de lazer e, em meu início de namoro com a Karol, resolvemos encarar nossa primeira viagem internacional.
Quase exatos oito anos depois, retorno à fronteira. Desta vez, não para Rivera, mas para o pequeno município de Aceguá, cerca de 450km da capital. Ao lado de mais seis docentes, partimos para a labuta – que se configurou num imenso prazer.
Realizar uma formação de professores não é um dos meus hábitos mais comuns, mas desde que lecionei no Ensino Superior pude observar a forma como acadêmicos conduziam suas relações com a gramática, a linguística e a literatura: acendeu-se um desejo enorme de colaborar com novas possibilidades de ensino e pesquisa para quem viesse a cumprir sua vida enquanto formado em Letras.
Nesta reunião, numa longínqua escola rural da comunidade de Colônia Nova, recebi a incumbência de trabalhar com as professoras de Língua Portuguesa locais sobre a Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Fundamental – e a paz agigantou-se em meu peito ao perceber o que já era feito e no que poderia ajudar.
Uma conversa clara, límpida, sem maiores teoricismos e desvinculações com a sala de aula tornou o encontro valoroso. De um lado, experiências fronteiriças com realidades altamente antagônicas à minha; de outro, exemplos e ideias que cumpram com as possibilidade de trabalho no que tange uma escola de pessoas que vêm do rancho mais distante da urbanidade, do castelhano que unge com espanhol as riquezas da nossa língua, dos crentes e descrentes de um Deus de amor ou de várias outras contradições. E o que é mais contraditório do que amar sua atividade em meio aos desprivilégios que ela vive?
Assim me senti naquela sexta-feira de frio ambiental e de calor humano: regendo o que já é regido com maestria pelos que lá se encontravam. Voltei com a certeza de que, mesmo não tendo as sobras de valores para investir nos free shops da fronteira e sem a Karol por perto, o prazer de passear pelos pagos distantes também é um presente que a Educação me dá.

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