Após o “sucesso” da primeira montagem, sucedeu-se o próximo trabalho: o que poderia unir as ideias de composição da banda com a produção literária do autor? A partir daí, a busca por relações intertextuais ganharam força.
Assim nasceu o segundo álbum: The lady of the pond and the rest of our lives.

A narrativa mescla a leitura do livro A dama da lagoa, de Rafael Guimaraens, com o desaparecimento de uma pessoa muito importante para Lúcio: sua amiga Leandra. O recente caso em sua vida fez com que unisse as duas histórias, considerando que ela era leitora do livro e ele se interessou por perceber aproximações entre o caso da adolescente encontrada morta na Lagoa dos Barros e a vida dela.
[1] UM SONHO EM DECALQUE
Tenho uma razão para ficar
Sempre que vejo teu rosto.
Não abandone tuas marcas
Nem abandone teus desejos:
Somos o que há de melhor
– e o resto é apenas um fim.
[2] UM DIA, UMA MANHÃ
O sol brilha intenso
Num bajular de luz sobre a Terra.
O que poderia acontecer de mal?
O que poderia ser tão delirante?
Carros velozes pelas vias da manhã.
Um horizonte repleto de curiosidade.
O que mais seria tão grave?
O que mais não teria perdão?
E a notícia veio com um tiro.
E o dia se transformou em escuridão…
A dama da lagoa foi encontrada!
Um ato de maldade a pregou numa cruz!
O que era pra ser um alívio
Tornou-se um alvo da dor.
O corpo embalsamado pela lagoa
Trouxe uma vida já exasperada.
A beleza dos teus olhos não foi vista
E o mundo perdeu um belo anjo.
Quem seria capaz de tal maldade?
Quem ousaria romper a vida de alguém
Cujos sonhos transitavam pelo céu,
Cuja alma se aproximou da Lua?
A dama da lagoa foi encontrada!
Um ato de maldade a pregou numa cruz!
O que era pra ser um alívio
Tornou-se um alvo da dor.
E aqui eu estou, pensando em ti,
Para que não sejas uma nova desaparecida…
[3] DIAS ATRÁS AO TEU LADO
Tu pegavas a ponta dos meus cabelos
E cada mal do mundo seguia seu rumo.
Como era fácil viver em nossos elos
Enquanto a vida seguia a pleno prumo.
A vida já não dança conforme a música.
Os sons da bateria anunciam o segredo
Que gera toda a verdade por meio do som
– um fluxo de amor que vibra neste enredo.
O que os anjos não traçam na Lua
É a verdade que vibra em nós –
O mundo é melhor ao teu lado
No abraço que nunca será algoz.
Talvez os mistérios do mundo
Não caibam inteiros nos nossos braços,
Mas eles sabem que a vida, no fundo,
É o que resta no ventre de nossos laços.
Assim, quando o mundo mais quiser,
A gente enche o peito e grita para ouvirem…
O que os anjos não traçam na Lua
É a verdade que vibra em nós –
O mundo é melhor ao teu lado
No abraço que nunca será algoz.
[4] ELA OU ELE?
Ficaram assim, um frente ao outro.
Que crime cada um cometeu?
Ele nunca fez nada, anjo tácito e mortal,
Em que mal um dia se meteu?
Ela é pureza e luz – que sempre brilha.
Um rosto de choro, um ar de clemência.
Ela nunca fez nada, anjo tácito e mortal,
Em que mal um dia se meteu?
Ele voltou, encontrado na zona distante.
Ela sumiu, levada pelo ar e pela luz.
Ele, que nunca fez nada, silenciou.
Ela, que havia desistido, não recuou.
Quem, afinal, é o anjo de verdade?
Quem, afinal, cometeu o crime real?
Ele ou ela? Ele ou ela? Ele ou ela?
Há muito ainda o que aprender…
Ele só diz que a deixou para trás.
Ela não aparecer para dar sua versão.
Ele não comenta mais nada – e mais:
Ela não consegue falar nem que não!
Silêncio, meu caro, silêncio é o que há!
Se você fala, o que ela falará?
Em que mundo, em que vida ela está?
Será que ela aqui nos dirá?
Quem, afinal, é o anjo de verdade?
Quem, afinal, cometeu o crime real?
Ele ou ela? Ele ou ela? Ele ou ela?
Há muito ainda o que aprender…
Quem, afinal, é o anjo de verdade?
Quem, afinal, cometeu o crime real?
Ele ou ela? Ele ou ela? Ele ou ela?
Há muito ainda o que aprender…
[5] ALMA ARMADA
Há tanto tempo não te vejo
E as notícias nunca são boas.
O frio invade minha alma dia e noite
Por não saber mais nada de ti.
Por onde anda o teu calor?
Por que vias circula e minha dor?
A minha alma está armada
E apontando para quem te levou.
São dias e mais dias de pavor!
O que os anjos querem de mim?
Então vamos (vamos!)
Que chegou a hora!
Vamos correr (agora!)
Para nosso mal!
Não há nada que não possamos fazer!
Não há vida que não possamos viver!
Corremos o risco, em riso profundo,
Apenas por não poder te ver!
Não há ninguém que me console,
Não há vento que faça o tempo passar.
Não há vida que tanto me desole
Quanto não ver a tua vibrar!
Não há nada que não possamos fazer!
Não há vida que não possamos viver!
Corremos o risco, em riso profundo,
Apenas por não poder te ver!
O mundo está aqui para nós, menina!
Vamos viver o que há de melhor!
[6] OS MIL MISTÉRIOS
Sinais sonoros chegam pelas ondas do rádio.
Cada notícia é um perigo incomum –
Há tragédias, mortes, crimes.
Quase nada que fale de ti.
Cada nota é uma passagem do horror.
São tantos mistérios em cada ser
Que nada justifica tantos sacrifícios
Em nome de um poder maior.
Onde está a tua aparição em meio a tudo?
O que o mundo fez contigo, baby?
São mil mistérios todos os dias…
Tantas notícias de um mundo irreal.
Pode ser a próxima em que falem de ti,
Pode tornar o meu pesadelo real…
A caminho de casa eu me deparo
Com novos sons que brotam de lá.
Pode ser que a vida seja tão clara
Ou que o mistério se junte por cá.
É tarde da noite e não falam de ti.
O que há? Onde estará? Acabará?
Me dê um sinal, uma só vez!
Meu bem, o que aconteceu contigo?
São mil mistérios todos os dias…
Tantas notícias de um mundo irreal.
Pode ser a próxima em que falem de ti,
Pode tornar o meu pesadelo real…
São mil mistérios todos os dias…
Tantas notícias de um mundo irreal.
Pode ser a próxima em que falem de ti,
Pode tornar o meu pesadelo real…
[7] UM JULGAMENTO INÚTIL
Ele se defendeu sabiamente durante o dia.
Não havia qualquer contradição.
Era alto, era claro, longe de qualquer suspeita –
Mas todos sabiam de sua versão…
Não havia testemunhas, crime mordido,
Nem a própria vítima para se defender.
Era claro que o caráter do dolorido
Viria à tona para poder se encolher…
De que adianta um julgamento,
Em que a vida já disse “não”?
Um olhar, um prazer, um falar,
Tudo o que vira até então…
De que adianta um julgamento,
Em que a vida lhe disse “não”?
Era hora de olhar para trás e perder
Tudo o que lhe faria tremer!
[solo]
Sempre saberemos de quem é a culpa,
Mas será que a justiça saberá?
De que adianta um julgamento,
Em que a vida já disse “não”?
Um olhar, um prazer, um falar,
Tudo o que vira até então…
De que adianta um julgamento,
Em que a vida lhe disse “não”?
Era hora de olhar para trás e perder
Tudo o que lhe faria tremer!
[8] ANOITECE NA CIDADE
Ó, meu bem, você não me esqueceu?
Cada badalada no relógio é um golpe
Tão seco, tão dolorido, tão lento…
Ó, meu bem, a cidade anoitece sem teu ar.
As risadas à mesa não são de alegria,
Muito menos o silêncio na minha cama…
As estrelas brilham cada vez mais…
Serão meus olhos que só lacrimejam?
Anoitece na cidade, sem saber de ti.
O mundo é opaco e sem luz…
O que há com a nossa vida, meu bem?
Não quero outra noite sem saber de ti.
Luzes! Telefone! Tudo começa a vibrar!
E agora? Será em seguida? O que devo saber?
Não há mais nada! Ou viverás?
– Em que mundo está tua voz?
Ah, minha amada, meu amor!
Tuas lágrimas apregoam minha alegria!
Tudo bem, tudo bem, não é nada –
Vamos nos abraçar de uma vez!
Anoitece na cidade, mas agora sei de ti!
O mundo é brilhante e de luz!
O que há com nossa vida, meu bem?
Agora é noite e eu preciso de ti!
[9] SEM TEMPO PARA PERDER
Hoje eu sento aqui, em frente às anotações
Para encontrar uma letra tão nova.
No entanto, o que eu sempre quis
Não cabe livre numa boa canção…
Meus acordes ressoam pelo horizonte
Tão vivos – e se encontram com teu sorriso
Que me acalma e ama quietinho…
São os acordes de uma nova canção…
Estamos sem tempo para perder (ah),
Pois a luz brilhou de novo em nosso caminho.
Cada passo agora viaja para longe (para tão longe)…
Para onde estejamos de mãos dadas!
A lagoa já não é um mal tão grande.
Suas leves ondas só me levam às tuas mãos.
O destino fechou as portas do mistério
Para que possamos seguir em frente e felizes.
Não haverá mal maior (nunca mais!).
Vês? O brilho está por aqui (em cada um de nós).
Vamos correr rumo ao infinito!
A lagoa já não é um mal tão grande.
Suas leves ondas só me levam às tuas mãos.
O destino fechou as portas do mistério
Para que possamos seguir em frente e felizes.
[10] O RESTO É APENAS UM FIM
Calma, calma, meu anjo…
Agora tudo acabou.
No silêncio dos traumas e das noites,
Teu corpo adormecerá tranquilo.
Caminha em frente, vá tranquila,
Que o mundo está para além de nós.