Releases e o nada

Há muitos anos, na época em que o pai assinava o Correio do Povo, eu gostava muito de ler o noticiário esportivo e o cultural. Ler as situações do Inter, os comentários do Hiltor Mombach e contrapor com o que via na televisão ou escutava no rádio sempre me atraiu muito. Junto à programação cultural do CP, quando íamos à tia Eny no final de semana, pegava o Caderno Cultura da ZH e desfrutava do que era ofertado.

Não deixo de lembrar que lia dos textos do Veríssimo lá e que conheci a Cláudia Tajes e suas crônicas ácidas e divertidas nesses cadernos. Eram muito curiosas também as resenhas feitas pelos jornalistas a partir dos lançamentos de livros daquele momento. Conheci, por exemplo, o Michel Laub, autor que hoje admiro muito, nas páginas de ZH.

Para a sessão de autógrafos do Mosaico de sangue, fiz o que há muito não me preocupava: escrevi um release sobre o livro e o enviei a cerca de vinte veículos de comunicação. Pensava na possibilidade de ter uma notinha aparecendo em algum desses jornais tradicionais – algo que aconteceu até com a Alma Ópera Rock, anos atrás, quando participamos do Festival Internacional de Teatro Estudantil, ou mesmo com as Novelas Porto-Alegrenses – ou via internet, como outrora ocorrera. Para a minha infeliz surpresa, nenhum espaço noticiou.

Nenhum.

Talvez o fato de a imprensa também ter uma preocupação comercial maior com temas que lhes gerem views ou likes complique a situação. Talvez o livro, como objeto de difusão cultural, não tenha o mesmo espaço de antes para autores menos conhecidos. Talvez o próprio release precisasse de algo mais para ser difundido. Não sei. O fato é: pensou-se numa data adequada para o envio do texto, a fim de que não se esvaísse temporalmente; falou-se diretamente com determinados jornalistas, para garantir que algo saísse por aí; reiterou-se o caminho tantas vezes já feito, em busca de um espaço cada vez menos observado pela juventude, mas que o povo dos 40+ ainda segue e utiliza.

Nenhum apresentou nada.

Em determinados espaços, os autores reconhecidos mantêm seu local sacralizado. Não apenas os que trabalham para as empresas de comunicação, mas aqueles cuja assessoria de imprensa têm trânsito maior acabam sendo mais incluídos que outros. Será o certo? Não sei. Só sei do fato.

A época da Feira do Livro de Porto Alegre também pode não ter ajudado. Basta imaginar quantos autores, editores, assessores e demais participantes da cadeia do livro possam ter enviado seus materiais para análise e circulação. Entendo que seja possível que alguns se percam no caminho e não recebam o devido reconhecimento – por pura falta de espaço ou de tempo para tal. Mas seria esse o fim mesmo?

Numa busca simples no site do Correio do Povo, é possível observar algumas pequenas resenhas sobre livros lançados na Feira, com ou sem relação com eventos específicos de discussão sobre as temáticas correlatas. Curioso é observar que algumas delas são menos completas ou com enfoque voltado mais para a entrevista ou para a fala de determinados autores do que para a obra em si. Talvez os padrões de discussão lançados sejam diferentes do que me propus a fazer. Talvez o Mosaico de sangue não faça parte desse perfil de publicação. Ou talvez eu seja apenas um autor independente que, mesmo com a quantidade de publicações e indicações alcançadas nos últimos anos, não interessa para a grande mídia.

E talvez isso seja bom, considerando o que circula por aí. Ou seja mais um nada em meio a tantos outros releases de vida que perpassam nosso dia a dia.

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