Sobre o trabalho valoroso do artista

Num dia desses, em uma aula da faculdade, mencionaram o fato de se conseguir vídeos por meio da pirataria. Não como forma de discussão ou como objeto de qualquer repulsa, mas “uma maneira de não aplicar o capital ao já dotado disso”. Num primeiro momento, os colegas até sorriram amareladamente para a situação, mas depois fui coagido a argumentar.

Desde que trabalho com a Alma Ópera Rock e publico livros, a grande questão que afeta as investidas está relacionada às fontes para tal prática. Se quisermos botar uma peça para o público, necessitamos pagar aluguel do espaço, iluminação (quando não há disponível), ECAD (mesmo sabendo que a grana praticamente nunca chega nos artistas em questão), iluminador, sonorizador (quando necessário), impressão de ingressos e de cartazes, pessoal que ajuda, enfim. E sempre tem alguém que chega e pergunta se não há cortesia para entrar.

Na publicação de um livro, aquele cara que quer ganhar um exemplar também esquece que o processo é longo e dispendioso. As editoras que pagam pelos autores são pouquíssimas. A autopublicação é uma tendência forte e já a faço desde 2013. Então entram os trabalhadores do livro, após a escrita dele: diagramação, capa, registro na Biblioteca Nacional, gráfica, porcentagem para os locais de venda. Cortesia? Pois bem…

Creio que a cortesia, nestes casos, seria a pessoa vir colaborar contigo. “Que legal! Lançaste um livro? Quero comprar!” – e felizmente escutamos isso de várias pessoas. Essas realmente são corteses e valorizam o trabalho (ou a pessoa em questão). Não vêm com aquela ideia de “vou xerocar o teu livro, que é mais barato” (mesmo muitas vezes sem saber que vai cometer um crime passível de punição) ou com o “vou comprar a entrada com a Fulana, que pra mim não custa tanto” (mesmo sem saber que a cidadã também perde grana com isso). Será que esse povo que pirateia e que xeroca lembra que os criadores também pagam contas, se alimentam, sobrevivem?

Sabemos que nossa situação econômica (política, na verdade) não é a mais confortável, mas isso não desfaz a vida de quem trabalha com a arte. Todos precisam sobreviver e ter suas criações privilegiadas. Afinal, se numa semana de St Patrick`s Day o cidadão pode investir R$ 20 numa cerveja com corante verde, não poderia investir o mesmo valor num CD, num livro, numa entrada para o teatro? Talvez aí more a cara da sociedade.

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