As complexas inspirações poéticas

Desde que tenho redes sociais, sigo canais, páginas e pessoas que expressam seus poemas. Independente do nível de qualidade estético ou da pureza das formas e representações, acompanhar o que há de contemporâneo em poesia é de suma importância.

Talvez tão importante quanto isso seja saber o que as pessoas querem dizer e o que querem ler. Quando comecei a escrever poemas – considerando os que entraram no Silêncio em poema, meu primeiro livro – a preocupação era com a busca de uma estética que oscilasse entre a reflexão e o sentimentalismo, num jogo quase barroco de inconformidade com o corpo e com o espírito. Claro que passei longe dos preceitos do século XVII, mas a ideia girava em torno de produzir algo que provocasse essa reflexão: jogo de termos, jogo de ideias, textos mais reflexivos e dotados de ironias, outros que fizessem com que observássemos o mundo, as suas ocorrências, os seus seres, a sua natureza falível e passageira, com muitas doses de (des)encanto.

Quando leio os textos atuais, sinto que me desconectei um pouco do que há de mais lido – apesar de eu nunca ter sido um autor de mainstream. Não vejo mais sonetos nas redes (apesar de meu amigo e excelente escritor Robertson Frizero fazê-lo, volta e meia), bem como não há outras estruturas fixas que sempre me atraíram na poesia. Talvez porque eu, dentro de minhas características individuais, sempŕe primei pelos pés no chão, por determinada ortodoxia na labor artístico, mas a produção que acompanho passa muito longe. Apesar de não julgar o verso livre como algo descartável, de não desprivilegiar nenhum texto pela simplicidade dos termos, parece-me que a simplicidade – de termos, de estrutura, de significados – passou a ser uma regra fixa. Claro que isso se soma à dificuldade do leitor de, muitas vezes, encontrar um texto poético que lhe some, lhe agregue – pois não o entende, num geral. E isso é muito triste, considerando leitores de Gregório de Matos a Manoel de Barros.

Não sei se estamos num caminho que nos leve apenas à simplicidade e à objetividade na comunicação, mas é um momento de encontrarmos aquilo que é mais direto para o leitor. Se o poeta consegue encontrar na sua expressão tais características, é um ótimo candidato a ter leitores proficientes. E eu, nesse ínterim, sigo meu rumo nos passos do que um dia me trouxe tanto prazer a ponto de querer escrever: as complexidades do texto, da linguagem e da vida.

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