Apontamentos sobre o miniconto

Ano passado, ao finalizar a campanha de financiamento coletivo de meus cinco livros preparados ao longo da pandemia, teve uma sobra de valores, Resolvi, por conta disso, criar um livro pocket para presentear os apoiadores, uma vez foram eles que tanto colaboraram com isso. Montamos um e-book e a versão física de “O maior show e outros minicontos”, com textos escritos cerca de dez anos antes.

Quando iniciei o Curso de Escrita Criativa, da Editora Metamorfose, falava-se muito nessa produção. Até porque o próprio Marcelo Spalding é um dos grandes apoiadores e escritores deste gênero. Ao longo das aulas, sempre me deixou muito pensativo aquele que o Ernest Hemingway escreveu, há tantos anos: Vende-se: sapatos de bebê, nunca usados. Uma frase e múltiplas possibilidades de significado. Por que vendem? Por que alguém teria sapatos de bebê em casa? Por que nunca usados? Será que o bebê havia morrido? Será que foi no parto? Será que foi assassinado? Foi o pai? A mãe? Alguém que invadiu a casa e sequestrou a criança? Essas e várias outras seriam possíveis graças a tal construção.

Um pouco da genialidade da literatura está nisso: provocar o leitor à reflexão por meio de suas palavras. O meu desejo, enquanto escritor, também é esse. Por conta disso, relendo aquele material e revisando na época, julguei que seria um bom presente a ser enviado aos apoiadores.

Quer connhecer um pouco mais sobre o miniconto? Leia os links abaixo:

Histórias de seis palavras, do Clube de Autores.

Minicontos, de Marcelo Spalding.

E, de lambuja, dois minicontos meus, só pelo gostinho:

A TEMPORADA DE FÉRIAS

Sentou-se no sofá. Tocou o telefone. Pegou a maleta e saiu.

O MAIOR SHOW

O show foi fantástico. O guitarrista, entusiasmadíssimo, gritava ao baterista: “vamos conquistar o mundo!”. O baterista vira-se para o público, que aplaudia incansavelmente uma apresentação realmente impecável dos artistas. “Sim, nós vamos, meu!”, respondeu ao que tocava guitarra. “Vamos lá, temos de cumprimentar o povo”, disse o vocalista. Os seis elementos se abraçaram lateralmente, curvaram-se, expandindo dentro de si os gritos de cada fã. Era fácil identificar a felicidade em casa um. Aos artistas, restou voltar ao camarim, secarem-se, trocarem-se, pegarem seus pertences, irem à van que os levaria de volta. Aos pouco mais de 40 que estavam no local, durante a apresentação, risos, gargalhadas, conversas e pouco entusiasmo pela continuidade da noite. Foram todos para casa.

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