Adote um escritor (em 2021 também!)

Demorei um pouco para escrever sobre outro trabalho muito legal realizado em 2020. O ano pandêmico foi cheio de problemas e dores, mas trouxe algumas atividades tão novas e cheias de vida que atenuaram um pouco os problemas de antes. Aliás, inclusive, falaram sobre meus problemas de uma maneira tão leve que adorei ter conhecido esse pessoal.
Em meados de outubro passado, a bibliotecária Cíntia Zimpel, do CMET Paulo Freire, me ligou. “Te escolhemos como autor para este ano na escola”, ela me disse. Confuso, pensei que se tratava do Autor Presente, mencionado em texto anterior. Na verdade, era meu primeiro chamado para o Adote um Escritor, programa da Prefeitura de Porto Alegre similar ao do Governo do Estado. Com muita alegria me dispus ao trabalho com a escola.
No entanto, uma aura de cuidado e de beleza foi observada nos dias vindouros. Cíntia e diversos colegas do Paulo Freire, em virtude da pandemia e do distanciamento físico dos estudantes, fizeram diversos vídeos com leituras de meus textos, explicações sobre a relação do que se escrevia com situações cotidianas, uma “entrevista” minha feita por meio de montagens com respostas que enviei em vídeo, enfim: uma soma de atividades.
Não era “só” isso: duas leituras de textos me comoveram bastante, ambas feitas a partir das Crônicas do Óbito, disponíveis neste site e transformadas em livro. Aquela leitura de contação de história, com riqueza de entonação e detalhamento, preocupada com o que se quer dizer junto ao como dizer. É difícil descrever o encantamento gerado, pois a forma como elas fizeram isso me deixou de certa forma atordoado, refletindo se o luto de fato havia passado, mas havia: elas me fizeram ver que a literatura transpôs o nível da dor e se transformou numa forma de manifestar literariamente algo que possa ter o significado para tantas pessoas que tiveram seus parentes levados em 2020.
Fiquei emocionado, de fato. Recepção assim, tão calorosa – mesmo em vídeos – eu só havia recebido mesmo quando fui para a EEEF Marina Martins de Souza, em 2018. Neste ano de dores diferentes, o carinho das profes de lá foi algo sensacional. Não pudemos finalizar o trabalho, mas em 2021 tirarei um tempinho para visitar a escola e poder dialogar com os estudantes.
Espero que a Cíntia, a Bia e os demais professores do CMET Paulo Freire (inclusive a Paula, minha colega, que me indicou para a escola) tenham a gana de sempre seguir assim com seu trabalho, pois a nossa parte, de tentar explorar um pouco o que o mundo e a sociedade nos promove por meio das letras, só se retroalimenta de quem as lê. Que 2021 traga novos trabalhos assim e que o Adote um Escritor siga firme nos projetos deste novo mandato que se avizinha na prefeitura.

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