A enchente e a escrita: pontos de convergência

A situação de Porto Alegre é acompanhada diariamente por todo o Brasil. Neste mês de maio, iniciada justamente em meu aniversário, uma enchente de grandes proporções vem abalando a capital e a região metropolitana. São inúmeras pessoas que perderam tudo: casas, familiares, bens, dignidade.

Muito pouco ainda fiz para ajudar na mudança do panorama. Nesse aspecto, sou um “bem orientado”, mas tomar a frente de certas circunstâncias nunca foi meu forte. Se houver a quem seguir, faço tudo exatamente como me pedem. É uma característica, enfim. Separei roupas, livros, fiz as doações, visitei espaços, comprei ração para distribuir, contribuí com pix – mas ser um voluntário, por exemplo, ainda me traz alguma dificuldade.

Ainda assim, as notícias que todos os dias nos assolam me deixam perplexo. Não soube celebrar meu 41º primeiro aniversário; nos próximos dias, celebrarei o aniversário de uma doce criatura – mas não sei até que ponto estarei lá para isso. A partir daí, as ansiedades que dominam este corpo parecem se materializar naquilo que é uma necessidade de expor toda vez que o coração se enche de vontade: escrever.

Na noite de ontem, 8 de maio, escrevi um planejamento do que deve se tornar um novo livro. Dez capítulos, relações entre passado e presente – com a inundação. As notícias, as imagens, as vozes das pessoas, o feed e os stories nas redes sociais foram combustíveis para a montagem de uma narrativa que, apesar de vivenciar uma tragédia, deseja que o valor entre as pessoas se solidifique. É uma tentativa de mostrar o que há dentro do autor e que se deseja realizado quando tudo acabar.

Assim, existe uma certa convergência entre o não tomar atitudes mais práticas frente ao problema e o ato de escrever: é um esperançar literário que se sobrepõe à necessidade de fazer. É, em suma, uma ação que se coloca sobre a outra. Talvez não seja tão bem vista por quem está se doando tanto às vítimas do problema, mas é uma humilde forma de registrar e resgatar o desejo de melhora que a sociedade, em princípio, tanto necessita.

Em breve vocês terão mais informações sobre Tudo entre nós é amor e água. Por enquanto, fica meu desejo de que todos estejam bem e de que a vida alce seus voos cada vez mais altos.

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