Se há algo que o Instituto Estadual do Livro faz muito bem, é o seu projeto Autor Presente. A pandemia ocasionou maiores relações com o projeto RS Seguro e levou diversos autores a casas penitenciárias, a fim de trabalhar a leitura, a escrita e as possibilidades de transformação social por meio dessas ações.
Tive a grata missão de visitar o Instituto Penal de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Após alguns problemas de comunicação – dados devido à saída da funcionária responsável pela mediação do projeto com o instituto, a psicóloga Letícia entrou em contato comigo para estabelecer os trabalhos com o estabelecimento. Após conversa de mais de meia hora sobre como funcionam o espaço e seus frequentadores, enviei exemplares do livro Crônicas do óbito, para que pudessem lê-lo, com o intuito de elaborar ideias sobre o tema principal, além de discutir possibilidades que a obra traz.
Sendo assim, no último dia 1º de dezembro, visitei o Instituto. Com um total de 18 detentos no pátio do lugar, a psicóloga e eu encaminhamos a conversa que durou aproximadamente 1h. Numa fala inicial, contei um pouco da origem de meus escritos e da importância deles para meu desenvolvimento, principalmente no que tangia a timidez, a exposição de sentimentos, o descarregar de pressões e o trabalho de transformar em benéfico tudo o que viesse.
A partir da leitura de Crônicas do óbito, alguns detentos questionaram situações da pandemia, relacionando com o que vivenciaram à distância com parentes e amigos. Um deles disse ter lido uma crônica que o deixou com um aperto no peito, pois disse ter vivido história similar – afinal, perdi meu pai para a COVID em 2020 e ele também. Outro mencionou o desespero pela situação de ficar recluso e cometeu delito (sem mencionar qual), segundo ele, devido a não saber como reagir frente às inseguranças e à então nova realidade. “Se eu soubesse me expressar, poderia ter sido diferente”, falou ao fim.
Com isso, em meio à timidez e ao silêncio de alguns, houve homens que permitiram suas ideias aflorarem e dizerem o que a leitura e a escrita lhes remetiam. Dessa forma, encaminhamos o final da conversa com a ressalva de que todos temos o potencial para desenvolver a expressão, de maneira que digamos o que sentimos e consigamos trabalhar o que não é claro para nós. Ao fim de tudo, os agradecimentos e o sentimento de novo dever cumprido pelo Autor Presente.