Certa vez, enquanto ainda estudante do Colégio Sévigné, o escritor Moacyr Scliar visitou nossa instituição em virtude de termos lido, no segundo ano do Médio, o livro “O centauro no jardim”. Em meio às falas, comentou que houve uma noite em que teve um insight sobre uma narrativa e não conseguiu parar de pensar nela até que conseguisse terminar de escrevê-la. No caso, ele se referia a uma das suas obras de que mais gosto: “Max e os felinos”.
Naturalmente sei que não sou o Moacyr Scliar. Recentemente, terminei dois originais que já estão com minha diagramadora para montagem das versões a serem enviadas para a gráfica. Aliás, noutro texto falarei sobre isso, mas o que interessa é o seguinte: enquanto conversava com o Bernardo e o Fernando sobre os finalmentes daqueles materiais, o Nando me perguntou qual seria meu próximo passo. Eu disse a ele que achava ser hora de voltar às novelas, uma vez que publicara “O fim de Alice” há quase seis anos e não tive mais nenhuma incursão de sucesso sobre esse gênero.
Parece que foi uma conclusão mágica. Poucos dias depois, busquei um original de letras de música que havia criado lá em 2013, 2014. Era para um projeto que intitulei “Farewell Tale”, cujo futuro álbum se chamaria “A midnight spring”. Nos meus parcos conhecimentos de inglês – principalmente da época – montei sete letras de música para serem desenvolvidas por uma banda de metal que eu tinha a intenção de criar. Como não sou da música, o projeto minguou. Em todo o caso, as letras ficaram prontas e decidi trazê-las para minha produção narrativa.
Reli o material e fiquei muito pensativo sobre. Então, na quarta-feira passada (3), resolvi dar início à narrativa que levaria o nome deste antigo projeto.
Fiquei com a história na minha cabeça. Guardadas as proporções, era como se eu precisasse pari-las, a fim de que se tornassem aquilo que eu gostaria de fazer. Foi então que passei as quarenta e oito horas seguintes numa imersão absoluta na narrativa, que ganhou estado inicial, problema, clímax, resolução, personagem protagonista mais complexo, relações multifocais entre si e os demais, memórias atrás de memórias para dar a base para o problema a ser resolvido e, finalmente, na sexta-feira, início da manhã, eu tinha um original novinho em folha, totalmente pronto.
Claro, ainda passará por algumas leituras, pois precisará de alguma lapidação, mas a minha primeira leitora de sempre, dona Karol, gostou do que viu. Após a primeira revisão linguística, terei meus leitores-beta. Aí sim poderei atestar o livro como pronto. Mas vocês não têm noção da alegria e de ver este material pronto em tão pouco tempo.
Talvez o Moacyr, lá de cima, não fique tão empolgado com isso, já que minha caminhada para chegar ao nível do seu trabalho ainda é muito longa. Posso dizer, porém, que ter processado toda aquela informação e transformado num original – do tamanho mais extenso que já produzi, inclusive – foi ter dado a luz àquela história que eu poderia ter produzido anos antes. Tomara que os futuros leitores curtam o resultado.