Nesta última semana, reativamos os trabalhos na escola e na faculdade, após longevos dias de férias – que poderiam ser estendidos sem qualquer pudor, uma vez que a procrastinação assumiu meu papel e me fez descansar de tudo que foi trabalhado em 2017. Foram dias de conhecer meus pequenos alunos novos, cerca de 100 crianças e adolescentes que me dão receio e complacência, num misto de cuidado e do desejo de lhes proporcionar o melhor.
Quando me apresento, sempre menciono meus anos como professor, minhas tarefas na Alma Ópera Rock e meus dias como escritor. É muito curioso ver a efusão da meninada quando descobrem isso. Ali, naquelas pequenas mentes, ainda vagam as imagens de escritores bem senhores, distantes de qualquer realidade, que vivem apenas para escrever e contar histórias; ao mesmo tempo, a doce ilusão de também escrever e transpor toda imaginação para uma ou duas folhas de caderno, a ponto de poder mostrar para o escritor e perguntar: “o que você achou?”
No entanto, fui surpreendido por uma pergunta muito singela de uma menina de 7º ano. Ao final de um dos períodos, enquanto seus colegas partiram para o intervalo, timidamente ela se aproximou e me fez aquela pergunta que motivou toda essa escrita: “como é escrever um livro?”
Talvez naquela cabeça nova e cheia de imaginação, a missão de escrever seja quase beatificada. Falei a ela que era algo muito bom, que me fazia muito bem, mas principalmente quando terminamos o texto. Afinal, o prazer que nos emite uma realização completa é, sem dúvidas, o maior deles. Iniciar um texto, uma proposta, um livro, todos nós somos capazes. Ir até o fim, laborar bastante, imprimir tempo, mente – pasmem, até dinheiro – já é para quem realmente deseja isso para a vida.
Essa pergunta me fez relembrar o quão bom é chegar ao final da missão, após iniciada. É como entrar em campo e resistir até o fim, apesar do cansaço e das lesões; como aguentar aquele filme que não foi sua primeira opção, mas que te proporciona novas sensações do “introito ao cabo”, como diria Machado. Hoje, ainda com o famigerado livro novo a ser produzido – e outro bem iniciado, com espaço para muito desenvolvimento, relembro que, talvez por essa gurizada, escrever e manter uma imagem de traçador de histórias, de movimentador do imaginário, de jogador de quebra-cabeças narrativo pode realmente ser importante.
Se tudo der certo, se os trabalhos do cotidiano não se sobreporem a essa iminente importância para mim e para a gurizada, neste ano a Feira do Livro de Porto Alegre deve me receber com uma nova narrativa. Quem sabe a pergunta da menina não receba uma resposta ainda mais prática e em mãos ao final do ano?